Wednesday, August 09, 2006

Festival de Vilar de Mouros



O grupo estava batizado, a comissão da ONU, éramos um brasileiro, um português, um alemão e uma espanhola. Seguimos então para Vilar dos Mouros, um povoado no extremo norte de Portugal, para nos meter no meio do mato, rodeados por hippies, metaleiros, bichos-grilos e malucos beleza, todos perfeitamente inseridos na sociedade... Sim, essa ironia foi o que mais me fascinou no festival, um evento onde a loucura, como todo o resto, é organizada.
Explicar o clima do festival é tarefa ingrata, afinal estas grandes festas se destacam pelos detalhes, por isso vou tentar passar uma imagem do que foi o festival com umas pequenas passagens.

Cena 1: Dia 1, à entrada do festival. Depois de derrubar alguns finos e uma garrafa de Joi (envenenada com vodka) e eufóricos com a iminência da festa, recebemos a notícia que estávamos na entrada errada, no lado contrário do rio. Para poder trocar os bilhetes, a única solução dada pelos seguranças foi dar uma volta gigantesca por Caminha, que ficava à alguns kilômetros de carro, e a uma hora pelo menos de caminhada. As propostas:
- Miguel Adão (o desenrascanço português) “Ê pá, fazemos assim. Vocês me esperam aqui que eu vou a correr e faço o percurso em meia hora.”
- Eu (o jeitinho brasileiro) “Meu irmão é o seguinte; Eu vou por aqui, atravesso o rio, acho um caminho pela encosta e troco os bilhetes do outro lado.”
- Laura (a sobriedade, em meio à embriaguês, espanhola): “Ma que passa, estam loucos. Tiene que ter outra maneira”
- A lucidez alemã (Andy) “Ê pá, é melhor irmos falar com o rapaz da entrada”
Assim fizemos e resolvemos o problema.



Cena 2: Dia 2, na beira do rio, curtindo uma ressaca. Um senhor (barbudo com cabelão) com sua família toda acampando no festival, começa a contar que tinha ido a todos as 35 edições, exceto a primeira. Eis que chega seu filho todo sorridente.
- Garoto “Pai, olha a pulseira que ganhei.”
- Velhote “Foda-se o pá, pareces uma puta francesa. Deixa de tretas e vai pegar a mortalha (papel para apertar a maconha)”

Cena 3: Dia 3, 11 da manhã cedo na barraca ao lado. Depois de dois dias se alimentando de presunto, queijo, vinho e mais presunto, diversas vezes por dia, nossos vizinhos, dois hippies de meia idade, me vêm com esta.
- Hippie quarentão 1 “Ê pá, comprei um frango pro almoço!”
- Hippie quarentão 2 “foda-se caralho, já temos presunto pra que raio queres o frango? És parvo ou o quê?”

Cena 4: Dia 3, último dia dos shows. Haviam vários casais metaleiros com filhos pequenos lá. O barato era ver a garotada tatuada, com cabelo pintado e curtindo pa valer os shows, inclusive um moleque de uns dez anos com o cabelo punk cantou metade das músicas do soulfly de cima dos ombros do pai (ainda por cima fazendo o sinal punk com as mãos). Mas o que mais me chamou a atenção foi um casal que brincava com os dois filhotes, dois sacos cama e um lençol na noite mais heavy metal do festival. Eles rolavam pela poeira, todos imundos, e no meio disto tudo ainda se via o pai curtindo imenso o show :))))).


Ah, o festival... Os melhores momentos.
- Chutos e pontapés: Excelente. Um show agradabilíssimo. A relação com o público é visceral, me contagiou... Eles são parte da família de todos os portugueses.
- Iggy pop: Que energia impressionante, ainda mais com cinqüenta anos. Não me interessa quantos quilos de droga ele precisou consumir, o cara sabe fazer um bom show. Ele desceu ao público (para o pânico dos seguranças), depois puxou uns malucos ao palco e não parou um minuto. Muito bom!
- Soulfly x Sepultura: Mais vale um cavaleira no vocal do que dois tocando... Uma presença de palco fenomenal e ainda uma palhinha na percursão (que poderia ser maior). E olha que heavy meatl não é, por assim dizer, meu estilo preferido.

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