Saturday, February 10, 2007

O mercadinho da Dona Sãozinha

Dona Sãozinha é diminutivo de São, que por sua vez é diminutivo de Conceição. Este é o nome da Dona do mercadinho que fica bem embaixo do meu prédio. É aqui que eu compro regularmente frutas e verduras e eventualmente coisas que eu esqueço nas compras em supermecados, como água mineral, arroz, azeite... Sim, apenas eventualmente, por que Dona Sãozinha não é boba e sabe que a comodidade tem o seu preço.
Talvez seja um mercadinho como os outros, mas para mim é especialmente peculiar por que posso acompanhar a sua vida quase todos o fins de semana. O que torna o mercadinho tão interessante é o fato de ser o ponto de encontro das velhas senhoras da vizinhança nos sábados de manhã. Ou seja, é a versão feminina dos barbeiros em Portugal, onde os velhos que nem estão pensando em cortar o cabelo ficam sentados para falar do Beira-Mar, Porto e Benfica. No mercadinho só muda o assunto, é a filha que está morando em Lisboa que engravidou mais uma vez, é o neto que vai estudar em Coimbra, o coitado do genro que foi mandado embora do emprego, o primo canalha que largou a mulher, ou seja quinze minutos lá é melhor do que horas de qualquer novela. Por isso algumas vezes quando passo em frente e vejo mais de duas pessoas desisto e vou a outro lugar, mas geralmente acabo por entrar e simplesmente “deixo estar” :))).
Mas também não falta ação no mercadinho, como no dia que uma senhora achou um rato morto enorme no meio das batatas. O evento foi motivo de um mês de conversa. Segundo Dona Sãozinha, já se sabia que o rato estava escondido pelo mercadinho, por isso ela colocou veneno em lugares estratégicos, além disso, garantiu prontamente que o fato não ia se repetir. Coitado do segundo rato que meses depois, desavisado, tentou entrar no mercadinho... Pereceu diante do ataque furioso de um grupo de vovozinhas raivosas munidas de vassouras, pedras e o que mais estivesse à mão... :))))
Mas a minha história preferida foi o dia que entrei sozinho na loja e comecei minhas compras pedindo Ice Tea. De repente Dona Sãozinha pega o telemóvel (telefone celular) e pede licença para ir aos fundos da loja. Fiquei lá entretido entre cebolas, queijos e papéis higiênicos, quando ouço baixinho o som do rádio, ao pé da água mineral:
- Tô sim, bom dia!
- Olá, bom dia quem está a falar?
- Tô, aqui é a Dona Conceição!
- Olá Dona Conceição, blá, blá, blá, blá, blá, blá.... então responda quem foi o maior português de todos os tempos?
- Pra mim foi o D. Afonso Henriques.
- blá, blá, blá, blá... Obrigado pela participação Dona Conceição, a senhora quer mandar lembranças para alguém?
- Sim para minha filha fulaninha e meu sobrinho sicraninho...

Segundos depois ela volta à loja me vê atônito e pergunta:
- Desculpe lá. Então o Leandro quer Ice Tea e mais o quê? :))))))))))))))

Saturday, February 03, 2007

Liverpool e os Beatles

“Let me take you down ‘cause I’m going to Strawberry fields”… Quando se coloca os pés no aeroporto já se percebe que você não está numa cidade qualquer, as paredes estão enfeitadas com letras de música, a entrada está um enorme submarino amarelo e no sagüão uma estátua de uma figura esguia com uns óculos redondos... Ah, o nome do aeroporto é Liverpool John Lennon airport :))))....
Nada mais justo, por que fica difícil imaginar o que seria de Liverpool sem os Beatles, pelo menos do ponto de vista turístico. Liverpool é indubitavelmente decadente. Prédios e fábricas abandonados, ruas esquisitas, prédios históricos mal cuidados. A cidade em si tem poucos atrativos, alguns prédios antigos, uma bonita zona protuária recuperada para ter um ar moderno e cultural (Albert doc) e a impressionante catedral de Liverpool, a terceira maior da Europa. Esta vale a pena comentar. Primeiro é interessante o contexto, essa catedral anglicana fica a poucos quilômetros da catedral católica que também é enorme e foi construída na mesma época, numa disputa de imponência que os católicos acabaram saindo perdendo.
Depois vale ressaltar a beleza. Uma beleza diferente, meio sombria. Quando passamos por ela estava escurecendo e a igreja com suas paredes enegrecidas parecia que ia desapercendo no breu, dava para se ver algumas luzes acessas lá dentro por uma ou outra das janelas esverdeadas, em volta um parque enorme recheado de árvores antigas sem folhas (por ser inverno) com vários recantos escuros e esquisitos e muitos corvos sobrevoando (corvos mesmo). Quando acabamos de comentar como o lugar era sinistro, vimos que no parque haviam várias pessoas fazendo cooper, mas claro, resguardados por um carro da polícia e vários policiais pelo lugar.


Mas quando se entra no clima da Beatlemania é que o lugar encanta. Não que eu seja um enorme fã, mas Fabi que é louca por eles me colocou no clima, contando histórias, repetindo várias vezes as músicas e pela própria empolgação de estar lá. E é mesmo um prato cheio. Encontra-se lojas e cartões com os Beatles em todo lado, assim como estátuas e homenagens, passa-se pelos pubs que eles freqüentavam (nós fomos no esquisito The Grapes e no excelente Jacaranda club) e, pasmem, tem até um enorme yellow submarine sobre quatro rodas circulando pela cidade :))))).

O museu vai te contando a história deles cronologicamente, é como se você fosse revivendo cada passo da banda desde o dia que se conheceram. Vai passando pelos primeiros shows no Cavern Club, depois as inspirações para as músicas mais famosas, a loucura dos fãs e claro o progressivo distanciamento. A sala mais impressionante é a da foto, você entra e está tocando imagine, as luzes vão se apagando as cortinas se movem como que ao vento e a foto fica em destaque... E olha que a música já era suficiente...
Nós achamos pouco e fomos fazer o passeio do “Magic mistery tour” :)))), que é mais interesse pros tietes. Mostra-se a casa de cada um deles na infância, a escola do John, George e Paul o pátio da igreja onde eles se conheceram... Mas mesmo para quem não é tão Beatlemaníaco é emocionante conhecer Penny Lane (sim, com o barber shop, o roundabout e o banco na esquina), Strawberry Fields e o inevitável final no Cavern Club (onde os Beatles tocaram mais de 200 vezes). Mas o melhor é passar por cada um destes lugares e ir escutando as histórias e curiosidades. Enfim, Liverpool é uma cidade que vive os Beatles e te faz viver também, e sabem tirar muito proveito disso. Isso por que, como é comum na Europa, eles sabem valorizar o que tem de bom.


The Cavern Club


A roundabout de Penny Lane, ao fundo o barber shop...


A despedida. De volta ao Liverpool John Lennon Airport...