Aveiro é a Veneza portuguesa, com sua ria (e não rios) enfeitada pelos barcos moliceiros, cortando o centro da cidade, desde a Sé até o Olaria. Aveiro são as flores com um colorido violeta enfeitando a praça da república na primavera e as folhas alaranjadas cobrindo a Sé, aos pés do João de Aveiro, no outono; é ir de carro pro trabalho todo empacotado no frio e escuridão do inverno e no mesmo horário ir pro trabalho de bike e camiseta no sol do verão;
Morar em Aveiro é fugir do ataque das cavacas na festa do São Gonçalinho, é ir trabalhar de manhã cedo e encontrar os estudantes nas ruas, cafés e praças ainda extasiados (e embriagados) depois de noites inteiras de farra na semana do enterro (calourada), e claro, é ir tomar vinho e comer pão com chouriço com todo o resto da cidade na feira de Março, que nunca é em Março;
Aveiro tem o pequeno almoço da Venepão e o café ao fim da tarde no café Liceu; tem o hamburgão do Ramona e boa massa do Mama Roma; tem o prato feito do Convívio e a caldeirada de enguias do Telheiro; tem o rodízio brasileiro no tupiniquim e o bacalhau do Ceboleiros, tem até, “made in Aveiro”, francesinha no Adamastor e carne de porco alentejana no monte alentejano, mas antes de tudo tem as tripas com chocolate e os ovos moles em cada canto da cidade;
Aveiro foi Portugal, Brasil, Angola, Holanda e muitos outros na Fun zone durante o Euro e na Sé durante o mundial. E inevitavelmente sempre vai ser o Aveiro da galera “in” da estação da luz, dos Erasmus do Bombordo, dos alternativos do posto sete, dos estudantes da praça do peixe nas quintas à noite e dos nativos na mesma praça do peixe só que no sábado à noite;
Mas só quem é mesmo de Aveiro pode ser diferenciado por Cagaréu ou Ceboleiro dependendo do lado que nasceu da Ria, e só quem é nativo para ter coragem de se juntar aos velhotes e ver os jogos do Beira-Mar no Galeria, mesmo na segunda divisão, ou ainda tomar um fino com presunto na petisqueria portuguesa ao som do fado;
Estar em Aveiro é tomar uma caneca no bombordo e esticar para uns finos no “Fuck’n Cais”; é escutar (excelente) música brasileira e portuguesa no Butirão e dançar salsa no Olaria; são os shots dançantes do Santos da Praça e a Heineken com som ao vivo (pasmem, tocam até Lenine) na Toca aqui; é, no seu pior, ter que ir ao Porto pra ver o filme novo do Almodóvar e é,no seu melhor, provar cada uma das irresistíveis cervejas importadas do restaurante Buraco, mesmo que isso exija várias visitas;
Em Aveiro eu troquei meu jantar de cuzcuz com carne de charque pelo pão da avó com alheira, o chá mate pelo Ice tea, as corridas na praia pelos passeios de bicicleta, o futebol na areia pelo futebol nos parques;
E é assim com esta simplicidade que Aveiro vai completando a maioria dos meus dias em Portugal...