Thursday, October 26, 2006

Aveiro


Aveiro é a Veneza portuguesa, com sua ria (e não rios) enfeitada pelos barcos moliceiros, cortando o centro da cidade, desde a Sé até o Olaria. Aveiro são as flores com um colorido violeta enfeitando a praça da república na primavera e as folhas alaranjadas cobrindo a Sé, aos pés do João de Aveiro, no outono; é ir de carro pro trabalho todo empacotado no frio e escuridão do inverno e no mesmo horário ir pro trabalho de bike e camiseta no sol do verão;

Morar em Aveiro é fugir do ataque das cavacas na festa do São Gonçalinho, é ir trabalhar de manhã cedo e encontrar os estudantes nas ruas, cafés e praças ainda extasiados (e embriagados) depois de noites inteiras de farra na semana do enterro (calourada), e claro, é ir tomar vinho e comer pão com chouriço com todo o resto da cidade na feira de Março, que nunca é em Março;

Aveiro tem o pequeno almoço da Venepão e o café ao fim da tarde no café Liceu; tem o hamburgão do Ramona e boa massa do Mama Roma; tem o prato feito do Convívio e a caldeirada de enguias do Telheiro; tem o rodízio brasileiro no tupiniquim e o bacalhau do Ceboleiros, tem até, “made in Aveiro”, francesinha no Adamastor e carne de porco alentejana no monte alentejano, mas antes de tudo tem as tripas com chocolate e os ovos moles em cada canto da cidade;

Aveiro foi Portugal, Brasil, Angola, Holanda e muitos outros na Fun zone durante o Euro e na Sé durante o mundial. E inevitavelmente sempre vai ser o Aveiro da galera “in” da estação da luz, dos Erasmus do Bombordo, dos alternativos do posto sete, dos estudantes da praça do peixe nas quintas à noite e dos nativos na mesma praça do peixe só que no sábado à noite;

Mas só quem é mesmo de Aveiro pode ser diferenciado por Cagaréu ou Ceboleiro dependendo do lado que nasceu da Ria, e só quem é nativo para ter coragem de se juntar aos velhotes e ver os jogos do Beira-Mar no Galeria, mesmo na segunda divisão, ou ainda tomar um fino com presunto na petisqueria portuguesa ao som do fado;

Estar em Aveiro é tomar uma caneca no bombordo e esticar para uns finos no “Fuck’n Cais”; é escutar (excelente) música brasileira e portuguesa no Butirão e dançar salsa no Olaria; são os shots dançantes do Santos da Praça e a Heineken com som ao vivo (pasmem, tocam até Lenine) na Toca aqui; é, no seu pior, ter que ir ao Porto pra ver o filme novo do Almodóvar e é,no seu melhor, provar cada uma das irresistíveis cervejas importadas do restaurante Buraco, mesmo que isso exija várias visitas;

Em Aveiro eu troquei meu jantar de cuzcuz com carne de charque pelo pão da avó com alheira, o chá mate pelo Ice tea, as corridas na praia pelos passeios de bicicleta, o futebol na areia pelo futebol nos parques;

E é assim com esta simplicidade que Aveiro vai completando a maioria dos meus dias em Portugal...


3 comments:

Anonymous said...

Eu quero rimas!!!!! Ahahahahah!

p.s.: Tu nunca comentar no meu flog, neh? Tisc tisc!

Anonymous said...

Aveiro é também o festival de música Sons em Trânsito, um excelente exemplo de descentralização cultural, este ano no teatro Aveirense, de 29 de Novembro a 2 de Dezembro:

"A 29 de Novembro actuam Cristobal Repetto (Argentina)e Ludovico Einaudi com Ballake Sissoko (Itália/Mali). No dia seguinte é a vez Debashish Bhattacharya (Índia) e Kepa Junkera (País Basco).
No primeiro dia de Dezembro é a vez Sara Tavares e de Lo'Jo (França) actuarem no Teatro Aveirense. No encerramento (dia 2) estarão presentes Aldina Duarte ( espectáculo com encenação de Jorge Silva Melo), Dazkarieh e Rene Aubry (França). " in Diário Digital (09-11-2006)

P.S.: Obrigada por partilhares este retrato de Aveiro :)

Anonymous said...

que texto lindo!
muito legal ver o carinho com que vc fala da "sua" cidade!
mas, o que me deixou realmente curiosa foi: "...e dançar salsa no Olaria"... hahahhaha
ahhh, essa eu queria ver!!!!!

:)
beijos!!!